ATTAC contra o Prémio Nobel da Paz concedido à União Europeia

12-10-2012 17:34

O Prémio Nobel da Paz deste ano foi concedido à União Europeia, numa demonstração de desrespeito pelas cidadãs e cidadãos de vários Estados-membros, incluindo Portugal, que enfrentam um ataque sem precedentes às suas vidas e à sua dignidade. A União Europeia, através da Comissão anti-democrática que tem o monopólio da iniciativa legislativa e toma decisões sem ter sido mandatada por um eleitorado, está a forçar milhões de seres humanos ao desemprego, à miséria e ao desespero. Não podemos concordar com a instrumentalização do Prémio Nobel da Paz para o sancionamento das políticas promovidas pela União Europeia e pela maior parte dos governos actualmente em funções.

O júri podia ter premiado os fundadores em 1957 ou aqueles que apoiaram a adesão da Grécia, em 1981, de Portugal e Espanha, em 1986, ou das repúblicas bálticas, em 2004. Teria sido uma oportunidade de mostrar que a solidariedade europeísta, com todos os defeitos que lhe podemos apontar, era a vocação fundamental da União. Premiá-la agora é concordar com o austeritarismo, com a violência da revolução neoliberal em curso e com as decisões do eixo Bruxelas-Frankfurt. Aceitar este prémio é desrespeitar os jovens, os pensionistas e todas as pessoas em situação vulnerável. Conceder este Prémio Nobel da Paz à UE é sancionar políticas que fomentam o crescimento da extrema-direita e da pobreza. É premiar ideias que desrespeitam os direitos humanos, através da eternização da miséria e da implementação de uma Fortaleza-Europa, onde se erguem muros, se fecham portas e se violam os direitos de cidadãs e cidadãos aos cidadãos provenientes de todo o mundo.

Na Península Ibérica, criminalizam-se movimentos, usam-se serviços de informações para vigiar cidadãs e cidadãos no exercício dos seus direitos democráticos e chantageiam-se povos inteiros para ajudar bancos e grandes fortunas. O aumento escabroso da austeridade, que aumentará as desigualdades e a pobreza, é uma função das exigências de Bruxelas e do zelo fanático do governo português. É esta a nova união eurocrata.

A resposta mobilizadora é evidente. Nos dias 15 e 29 de Setembro, manifestações maciças. No dia 5 de Outubro, o Congresso Democrático das Alternativas. Amanhã, dia 13 de Outubro, haverá manifestações culturais por todo o país e por todo o mundo. No dia 15, vários movimentos apelam a um cerco à Assembleia da República. No dia 14 de Novembro, uma greve geral, que se espera portuguesa, ibérica e europeia. Essas são algumas das respostas dos povos da Europa à União Europeia como existe agora. Uma fortaleza decrépita que maltrata migrantes, trabalhadores e, especialmente, trabalhadoras, a coberto de uma obsessão competitiva e de uma incapacidade adquirida para mudar o curso da sua auto-destruição.

Portanto, o Prémio Nobel da Paz só poderia ser justificado em nome de uma paz passada, mas não com base na união actual de conflitos e desigualdades crescentes. A Europa da solidariedade e esperança foi hoje definitivamente substituída por uma Europa de competição entre países ricos inchados com certezas e países pobres desesperados sem elas. Repudiamos este prémio e, na rua, construiremos mais alternativas para desarmar os mercados e democratizar a política. Porque Portugal, a Europa e o planeta não estão à venda.

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