Congresso Democrático das Alternativas: valeu a pena, a gente vai continuar! - Henrique Sousa

09-10-2012 01:14

Foi assim. Estivemos reunidos perto de dois mil na Aula Magna. Vindos de todo o país. Com partido e sem partido. Socialistas, comunistas, bloquistas, independentes de distintas sensibilidades. Activistas sociais e militantes de inúmeras causas. De todas as idades. Mobilizados pela urgência de responder ao estado de excepção permanente que os capatazes da troika querem impor ao país.

 

Foi uma grande assembleia democrática dos que, na diversidade, recusam a inevitabilidade e a tragédia desta austeridade infinita. Descobrindo e construindo denominadores comuns para fundamentar as alternativas e a mudança de rumo que é preciso.

 

Juntámo-nos sem outra agenda que não seja a crença de que há um espaço de debate e mobilização cidadã, plural e inclusivo, capaz de propor denominadores comuns de proposta e de acção alternativos à narrativa da culpa, da expiação e do medo. Que recusa o caminho do empobrecimento e da desigualdade. Que sustenta a convicção de que é preciso dinamizar e regenerar o sistema político e a democracia desacreditados pelas elites que têm abusado do poder. Complementar dos partidos e organizações sociais. Capaz de juntar no diálogo e na convergência o que é diverso e tem a matriz constitucional como referência das alternativas democráticas de governação que é imperativo construir.

 

Fizemos democracia. Debatemos todo o dia. Aprovámos a Declaração cujas ideias e propostas dão testemunho que valeu a pena cumprir esta etapa. Decidimos continuar e descentralizar este grande espaço de mobilização e debate cidadão, plural e inclusivo, projectar para o espaço público e partilhar os denominadores e as propostas discutidas, convocar novo congresso quando for necessário.

 

Em 38 anos de democracia, nunca conseguimos uma assembleia cidadã assim. Na convergência, no debate democrático e na diversidade política. Fundada no diálogo entre pessoas. Sem necessidade de ninguém enterrar as suas bandeiras. Mas sabendo escutar os outros e partir à descoberta do que é comum.

 

Foi preciso vivermos este estado de emergência da democracia e do país, em que fanáticos ultraliberais afundam o país em nome de uma agenda de ajuste de contas com o 25 de Abril. Porque as situações de urgência e de emergência como a que vivemos, aqui e agora, não se compadecem com as clássicas recriminações e divisões das esquerdas. Como também não se resolvem apenas com apelos à unidade sem conteúdo nem políticas, porque depois logo se vê. Exigem convergência, diálogo e construção de denominadores comuns programáticos para a governação.

 

Reclamam novas abordagens e novos contributos. Reclamam mais participação cidadã no espaço público. O Congresso foi e é, não a solução, mas um contributo para isso. Complementar da acção colectiva dos partidos e das organizações sociais.

 

Chegámos juntos ao congresso, todos quantos, na sua diversidade, no dia 1 de Julho, há três meses, acreditaram no projecto, o assumiram colectivamente e elegeram a sua comissão organizadora.

 

Saímos todos juntos do congresso para prosseguir esta caminhada. Não é coisa pouca.

 

Cumprimos o sonho inicialmente amadurecido por uns poucos, diversos nos percursos e nas ideias. Sim, Miguel, que já não estás por cá mas estás sempre connosco, porque também os mortos vão ao nosso lado, conseguimos!  

 

A gente vai continuar.
 

Henrique Sousa, membro da direcção da ATTAC e um dos fundadores e organizadores do Congresso Democrático das Alternativas

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