Intervenção de Bernardino Aranda em Frankfurt

26-05-2012 10:12

 

Queridas amigas e amigos

A situação em Portugal é semelhante à da Grécia há cerca de um ano e meio. É grave – muito grave – mas com tendência a deteriorar-se cada vez mais e a uma velocidade cada vez maior. O pior ainda está infelizmente para vir se nada for feito e as elites do país, tal como a orquestra do Titanic, continuam “a tocar” como se nada se passasse de extraordinário.

O Governo Português e a comunicação social rejubilam com a descida dos juros da dívida portuguesa para 12,74% - a 5 anos – e na sua fantasia neoliberal imaginam “os mercados” a reagirem satisfatoriamente à anulação de 2 feriados nacionais (o dia da restauração da independência face a Espanha e o dia da implantação da República).

A verdade é que a Taxa de desemprego não para de crescer. É já de 15,3% (36% entre os jovens), números que vão ser rapidamente ultrapassados uma vez mais. Mas o nosso Ministro das Finanças, Professor de Economia, explica que isso se deve há rigidez do mercado de trabalho e a dificuldade em despedir.

O Governo Português é uma aliança entre liberais e conservadores de direita (ambos os partidos membros do PPE – Grupo dos “Democratas-Cristãos Europeus”).

Ambos os partidos têm um historial imenso de delapidação de dinheiros públicos. Desde grandes resgates a pequenos bancos de amigos, à compra de submarinos à Alemanha para entreter as chefias militares.

No entanto, no discurso, para estes senhores, os gastos públicos parecem ser a origem de todos os males da nossa economia.

A austeridade, para esta gente, não é uma necessidade de curto prazo. A austeridade é um projeto político de longo prazo, que visa deixar marcas profundas na sociedade. Um projeto de retirada de direitos aos trabalhadores, de diminuição de salários e de destruição do Estado Social.  Tudo conquistas do povo português, quando em 25 de Abril de 1974 – ainda não havia euro ou União Europeia – fez a Revolução dos Cravos, derrotando o Regime Fascista e pondo fim à guerra sangrenta travada nas ex-colónias portuguesas em África.

Hoje, com as privatizações em catadupa de empresas públicas, a preços relativamente baixos, a grupos económicos estrangeiros, é o povo português que se sente crescentemente “colonizado”.

A ATTAC Portugal tem trabalhado no âmbito da resistência e da educação popular sobre as reais causas de crise portuguesa e europeia. Estamos também empenhados no processo de Auditoria Cidadã à Dívida de forma a que se conheça e avalie a dimensão real da dívida e a forma como foi contratualizada.

Defendemos um controlo público do sistema financeiro. Não só para prevenir futuros males maiores, mas de modo a coloca-lo ao serviço da economia  e dos trabalhadores na saída da crise.

Precisamos de uma europa mais solidária. A história das uniões económicas e monetárias é uma história da agudização de diferenças entre as regiões mais ricas e as mais pobres. Essas diferenças necessitam de ser compensadas por um Orçamento Comunitário; pela hipótese de endividamento, sem juros especulativos, para financiar projetos de desenvolvimento económico, social e ambientalmente sustentáveis; pela existência de um Banco Central Europeu que responda perante os povos da Europa e que não tenha como principal preocupação zelar pelos interesses dos grandes grupos financeiros.

Sabemos que estas propostas não são exequíveis sem mudanças profundas no atual quadro europeu.

É por isso que valorizamos acima de tudo a luta que é feita aqui em Frankfurt, o quartel general da Troika e um dos centros mais determinantes para o presente e o futuro da União Europeia.

E valorizamos em particular a luta dinamizada pelos nossos camaradas alemães que, vivendo numa das regiões mais ricas da Europa e, apesar de tudo, não afetada negativamente pelas políticas monetárias e cambiais do BCE, e apesar de toda a presença e repressão policial, estão na linha da frente da luta por uma Europa de Solidariedade, Paz, Justiça Social e Democracia.

Muito obrigado.

Voltar