A Europa precisa da esquerda a governar - Mário Tomé
16-10-2015 10:55
A Europa precisa da esquerda a governar
I
A orquestração político-mediática transformou as eleições legislativas em eleições para primeiro-ministro.
Realizadas as eleições e apurados os resultados, a definição constitucional dos caminhos da República em função da vontade dos eleitores ficou prisioneira daquela formatação e manipulação da campanha.
A formação do Governo passaria a ficar dependente da força política que “ganhou as eleições para primeiro-ministro” e não dos deputados que, de acordo com as suas convicções e programas a que se associaram para se apresentarem ao eleitorado – os partidos – se associam, agora, no parlamento, em grupos parlamentares no respeito pelas intenções explícitas com que se apresentaram a sufrágio.
Não é, portanto, aceitável a “troca-tintice” reaccionária de que tem forçosamente que ser Passos Coelho a formar governo, muito menos não tendo apoio parlamentar para corresponder à exigência de estabilidade e duração que o próprio Presidente da República definiu e que o país precisa.
II
Os eleitores quiseram mudar, contra a austeridade. Foram os deputados eleitos à esquerda, a maioria parlamentar, que a tal se comprometeram nos seus progarmas enquanto o pífio PAF não apresentou outro programa que não fosse o do governo cessante de 4 anos de destruição da já reduzida capacidade produtiva, de venda do país, de obediência cega a Bruxelas, de opção pelos donos disto tudo contra os que fazem isto tudo.
A direita, cada vez mais ultramontana, e seus assessores mediáticos muniram-se de todo o arsenal arcaico de acusações imbecis transportando para o campo ideológico aquilo que é eminentemente político: que sector do parlamento eleito está em condições de responder consistente e coerentemente ao mandato maioritário do eleitorado: travar a austeridade e a sangria dos rendimentos do trabalho e relançar o emprego, o Estado social, o SNS, assegurar a dignidade da vida de quem trabalha e de quem já trabalhou.
É necessária uma resposta política séria, sólida, comprometida e responsável para responder à vontade do eleitorado. Deixem-se de tretas e não vão ao fundo das arcas encoiradas e aos palimpsestos roídos das traças.
Neste momento, um governo com apoio maioritário à esquerda é a única solução decente e também aquela que interessa à Europa que se tem mostrado incapaz de responder aos grandes desafios que temos pela frente: avanço das forças fascistas e neo-nazis, em França, na Áustria, na Grécia e à sua instalação na Hungria a cujo primeiro-ministro os mandantes da U.E. dão calorosas palmadas nas costas; a crise de proporções bíblicas dos refugiados; a satisfação das necessidades básicas de milhões dos seus cidadãos e a degradação acelerada do respeito pelos direitos humanos, das políticas sociais que eram a sua marca d’água, da democracia nas próprias instituições comunitárias.
III
A crise está a provocar mudanças e recomposição de forças, não só à direita como vimos, mas também à esquerda com a grande mudança no Partido Trabalhista inglês e mesmo na Grécia, pesem todas as vicissitudes do seu processo político.
O PS também deve levar isto em conta: contribui para dar força à direita ou percebe que é tempo de a travar e entrar na campanha da democracia e do Estados social e da dignificação do Trabalho nos direitos e nos salários?
São os governos como o do pífio-PAF, cobardes face às responsabilidades que constitucionalmente lhes estão cometidas, que são anti-europeus e que abrem espaço às forças neo-nazis.
Admitir um apoio, crítico por certo, abstido violentamente, sem dúvida, ao grupo formado por aquelas criaturas de todos sobejamente conhecidas nomeadamente daqueles que querem juntar-se-lhes para não permitir que a esquerda política ajude o país a libertar-se do jugo e da canga, é faltar às mais remotas reminiscências do que é uso chamar-se social-democracia.
Os passos que estão a ser dados permitem esperar uma saída decente e que corresponda ao mandato que o eleitorado conferiu aos deputados.
Mário Tomé
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